quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Arroz Chau-Chau (Adília Lopes)



Quando a entrevistámos para "Na Cozinha com Elas", Adília Lopes disse-nos que a sua refeição favorita seria "Arroz Chau-Chau" acompanhado por um café. Aqui fica a receita:

2 chávenas de arroz, previamente lavado;
1 ovo mexido, cortado em pedaços muito pequenos;
1 fatia de fiambre grossa, cortada em pedaços muito pequenos;
1 cenoura grande, cozida “al dente”, cortada em pedaços muito pequenos;
1 chávena de ervilhas cozidas;
Sal.

Ponha ao lume 3,5 chávenas de água, temperada com sal. Quando estiver a ferver, deite o arroz, reduza o lume e tape. Deixe cozer durante cerca de 20 minutos, evitando que fique demasiadamente cozinhado.
Quando o arroz estiver pronto, misture as ervilhas, a cenoura, o fiambre e o ovo.
Se quiser apurar o gosto, pode refugar o arroz antes de iniciar a cozedura.

Escrevem-nos: Ainda a Filó, que nos faz uma oferta!

Lindos queridos. Olá!
Esta semana devem estar muito mais contentes. Seguiram os meus conselhos e com certeza que já tiveram muito mais, como é que chamam a esses? Ouvintes? Sim que só pode ter sido por causa do que vos disse (e realmente que abuso terem posto aí para toda a gente ler uma mail que era só “entre nous”!) que publicaram finalmente entrevistas com gente que se conheça: A Teresa que é um amor. Chiquérrima e uma grande cozinheira. Estupenda. Os almoços que ela faz naquela casona dela no Sobral. Que delícia! No outro dia estive com ela. Na Maria da Fonte, aqui no bairro. Estava com aquele que pinta. O Jorge. Martins, não é? Também vive aqui. Acho que está podre de rico com os quadros. É um super doce, um gatinho. Foi óptimo. Estivemos a falar de coisas italianas e ela sabe tudo. Tudo. Não admira também... E também puseram o Gonçalo que é meu grande amigo de sempre. Por causa dos cavalos. Uma verdadeira paixão. Dele e minha.
Dito isto acho que vocês deviam combinar comigo e publicar todas as semanas uma coisa escrita por mim. Assim como que uma crónica. Eu podia ser: a vossa provedora. Como agora há em toda a parte. Até na televisão. E nessa altura bem podiam deixar de pôr coisas que outras pessoas escrevem. Eu bem vi aquilo do João Rito. Era mesmo o único que faltava nesse vosso grupinho de engraçadinhos sonsos. E logo com uma história de pouca vergonha. Quem vai a sítios daqueles, fica calado. E aquele casal que vem discutir para a rua? Que coisa! Pelo menos que não venham pôr um anúncio no jornal. Mesmo se essa vossa geringonça não é bem um jornal. Mas é o que eu digo: perderam todos o juízo. E a vergonha. E muito por culpa vossa. Que quanto maior for a tolice mais contentes ficam. Mas para mim, apesar de tudo, vocês são uns doces. Tudo isso é só género. Sei eu. Para se fazerem interessantes.
Pensem bem nisso. De eu ser a Provedora. Era mais que bom para vocês. Faz-lhes a maior das faltas. Pensem bem, meus queridos lindos.
Um beijinho enorme da Filó

As Receitas de "Na Cozinha com Elas".


Continuamos a publicar algumas das receitas de "Na Cozinha com Elas". Hoje três sobremesas cujas receitas nos foram dadas por Maria Luísa Murteira e Maria João Bustorff.

Leite de Creme (Maria Luísa Murteira)



1,5 l de leite
500 g. de açúcar
1 colher de sopa de Maisena
8 gemas de ovos
1 casca de limão
açúcar para queimar

Desfaz-se a farinha num pouco de leite frio. Junta-se o resto do leite e o açúcar. Leva-se ao lume, sempre a mexer para não fazer caroços. Quando abre fervura, ferve só o suficiente para não saber a farinha. Tira-se do lume e deixa-se arrefecer.
À parte, deita-se numa tigela as gemas cortadas com à faca e vai-se juntando parte do preparado morno, deitado em fio e mexendo sempre. Depois de bem misturado, junta-se ao resto que ficou no tacho.
Volta a ir ao lume, sem ferver, só para cozer as gemas. Deixa-se arrefecer novamente.
Para caramelizar, vai-se deitando o açúcar e queimando, com o ferro em brasa, a pouco e pouco.

Mousse de Morango (Maria João Bustorff)



½ kg. de morangos;
2 dl. de natas;
150 gr. de Icing Sugar;
3 claras.

Desfazem-se os morangos com a varinha ou no copo. Batem-se as natas. Batem-se as claras em castelo com o açúcar. Mistura-se tudo e vai para o frigorífico.

Sorvete da Minha Sogra (Maria João Bustorff)




14 gemas
14 claras
½ l de natas
½ kg. de açúcar

Batem-se muito bem as gemas com o açúcar na batedeira. Juntam-se as natas também batidas e no fim as claras em castelo, a envolver.
Molha-se uma forma, deita-se o sorvete e vai para o congelador.
Podem-se juntar morangos ou pêssegos desfeitos.

O nosso Inquérito: Gonçalo Couceiro.



Nome: Gonçalo Couceiro.
Cozinha muito frequentemente? Sim.
Para quem? Para os da casa e visitas.
Quando começou a cozinhar? Depois dos 20 anos.
Seguiu algum curso? Não.
Há alguém que considere seu mestre? A curiosidade e a gula.
Livros de cozinha favoritos? Depois da Maria de Lourdes Modesto e do Pantagruel, não sigo nenhum em particular.
Qual é o prato que mais gosta de cozinhar? Nesta fase actual peixe no forno.
O que cozinha mais frequentemente? Bifes, empadas no forno, peixes diversos grelhados.
Costuma aproveitar os restos de um prato que cozinhou e com eles fazer um novo prato? Sim.
Tem um produto favorito? Não.
Que tempero considera mais importante? Sal.
Tempero mais excessivamente sobrevalorizado? Alho.
Tempero mais injustamente esquecido? Sálvia.
Utensílio de cozinha mais indispensável? Panela.
Tem um utensílio que considere “pessoal” ou “favorito”? Não.
Quais são as suas lojas favoritas para géneros e equipamento: As lojas preferidas são aqui no Algarve duas: o supermercado Apolónia em Almancil e o Mercado de Olhão, onde há uma grande variedade de peixes, com uma frescura que tornam a visita sempre agradável e nos deixa sempre indecisos entre tantas possibilidades de escolha.
Para utensílios, não há propriamente uma loja. Vou comprando ao longo de anos, nos mais diversos sítios, lojas especializadas, de equipamento hoteleiro, supermercados, ou países, ou cidades por onde passamos e passeamos.
Com os utensílios de trem, finalmente, depois de muitas más opções, definitivamente nunca mais tachos, panelas de frigideiras com asas, pegas e tampas em material plástico.
Frigideiras ou tachos revestidos a teflon também não, têm uma durabilidade pouco interessante. Preferências mais para o aço inox, é o que vai tendo melhor comportamento, ou o alumínio grosso ou o ferro fundido.
Interessa-se pela aplicação de novas tecnologias na cozinha? Sim.
Prato favorito? É difícil a resposta.
E petisco? Biqueirão.
Prato português favorito? Bacalhau à Zé do Pipo.
Restaurante favorito? Casa Velha (Algarve).
Conselhos ou normas de sabedoria? Todos os caminhos são válidos com bons produtos.
Há alguma pergunta que gostaria que lhe fizéssemos? Por que é que a doçaria tradicional está a desaparecer dos nossos restaurantes e os portugueses deixam que a União Europeia imponha normas pseudo higiénico-sanitárias que deixaram o país inundado de esterco tipo doces da “casa da avó” e da treta?
Uma das suas receitas favoritas:

Massa com camarões e azeitonas pretas.

Uma receita de “restos”:

Empada de carne, com legumes, envolvida em massa folhada.

Para dar receitas minhas é mais difícil. Não as tenho. Normalmente tento reconstituir um prato que vi e gostei, ou então pego num qualquer livro de cozinha e reinterpreto a receita à minha maneira, com algumas adaptações ao gosto pessoal.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Dos Arquivos de "Na Cozinha com Elas".



Quando fizemos as entrevistas que, depois de aventuras múltiplas, acabaram por ser publicadas como “Na Cozinha com Elas”, recolhemos uma quantidade de material que não foi utilizado, sobretudo fotografias. Dado que algumas delas representam muito do tempo de toda uma série de mulheres extraordinárias, pensamos que seria da maior justiça publica-las. Muito também porque nos fazem recordar as horas passadas na companhia de pessoas fantásticas que nos acolheram com uma generosidade que nunca esqueceremos.

Adília Lopes



Não sabíamos que a porta de esmalte branco por que nos mandou entrar abria para o próprio espaço do génio: o seu humor. Os terrores, abismos e ritmos encantatórios. Uma lenga - lenga sem fim aquele discurso circular e completamente mágico - a culinária apenas um pretexto para uma luminosa, por vezes aterradora, viagem interior.






Um cenário onde tudo parecia deixado ao seu destino e onde tudo estava no momento certo. Como palavras num texto aparentemente confessional mas soberbo fruto do mais sofisticado artificio.


Uma figura caleidoscópica: um desfilar de imagens reflectidas, invertidas, instáveis e inapropriáveis. A gruta de uma feiticeira doméstica, lembranças de um país que experimentou uma revolução total, de uma infância imaginada ou de uma cidade destruída por um tornado: Dos escombros resulta a visão da própria evidência, a inelutável revelação do essencial.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Lagostins com Bavaroise de Abóbora


Lagostins

200 gr. de manteiga
6 fatias de fiambre
6 lagostins (ou camarões grandes)
Sumo de limão
Passa-se a manteiga com o fiambre no 1 2 3. Divide-se em duas partes iguais. Numa fritam-se os lagostins. A outra metade aquece-se, jnta-se uns pingos de sumo de limão e põe-se por cima.
Serve-se acompanhado por:
Bavaroise de Abóbora

200 gr. de abóbora
1 colher de azeite
2 échalotes
1 dente de alho
Hortelã da ribeira
6 folhas de gelatina
1 cubo de caldo de galinha
2 dl de natas
Corta-se a abóbora aos bocados e reserva-se. Aquece-se o azeite e derrete-se nele o caldo de galinha. Junta-se a hortelã da ribeira, as échalotes e o dente de alho inteiro. Junta-se a abóbora, deixa-se fritar um pouco e cobre-se com água. Deixa-se cozer e passa-se no 1 2 3. Entretanto juntam-se as folhas de gelatina que já se derreteram em água e se escorreram num passador e, por fim as natas batidas. Mistura-se tudo e deita-se em pequenas formas molhadas em água. Põe-se no congelador e retira-se 3 horas antes de servir.

Poule au Riz



6 peitos de galinha
2 chávenas de arroz basmati
4 cenouras
2 alhos franceses
1 cebola
2 copos de vinho branco
1 colher de sopa de farinha
2 dl de natas
Coze-se a galinha num litro de água com a cebola e o arroz. Faz-se uma redução de vinho branco com alho francês e cenoura. Guarda-se depois de cozidas 2 cenouras e espremem-se as outras duas com os alhos franceses e reserva-se a redução assim obtida.
Faz-se um bechamel com o caldo de galinha. Junta-se a redução do vinho e as natas e deixa-se ferver para engrossar.
Numa travessa põe-se o arroz, os peitos de galinha, as cenouras à volta e cobre-se com o molho.

Gostamos: Kathy's


Uma relação qualidade/preço imbatível. Uma ementa inteligente que propõe uma cozinha honesta e muito agradável. Um cenário diferente da monotonia habitual e o serviço simpático e diligente. Estas serão algumas das razões porque o Kathy’s fica sempre apinhado à hora de almoço e ali se encontram cada dia as forças vivas da região. O proprietário e gerente, o Zé, é um rapagão sorridente que conhece pelo nome a maioria dos clientes e se empenha em que estes se sintam bem-vindos e bem tratados. Antigo barman, prepara dry martinis realmente como deve ser, que não devem aos de nenhum bar por esse universo fora. Alem de se ocupar dos grelhados. Na perfeição.
Restaurante Kathy’s. Estrada Nacional 379 (Estrada do Cabo Espichel). T: 212685512.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

O nosso Inquérito: Teresa Paiva



Nome: Teresa Paiva.
Cozinha muito frequentemente? Com alguma regularidade.
Para quem? Exclusivamente para os meus amigos.
Quando começou a cozinhar? Na China, quando lá vivi durante dois anos.
Seguiu algum curso? Sim. Um curso para amadores em Mougins, na Provença. Com Roger Verger. Já faz uns anos.
Há alguém que considere seu mestre? O meu guru é o Zé Guilherme.
Livro de cozinha favorito? The Harry’s Bar Cookbook, do Senhor Arigo Cipriani.
Qual é o prato que mais gosta de cozinhar? Risotto.
O que cozinha mais frequentemente? Pasta.
Costuma aproveitar os restos de um prato que cozinhou e com eles fazer um novo prato? Nunca tenho restos.
Tem um produto favorito? Dois: alho e azeite.
Que tempero considera mais importante? O sal.
Tempero mais excessivamente valorizado? Salsa.
Tempero mais injustamente esquecido? Açafrão.
Utensílio de cozinha mais indispensável? Uma boa frigideira.
Tem um utensílio que considere “pessoal” ou “favorito”? Não.
Interessa-se pela aplicação de novas tecnologias na cozinha? Não.
Costuma consultar sites da internet dedicados a temas culinários? Não. Costumo consultar livros.
Quais são as suas lojas favoritas para produtos alimentares e equipamento de cozinha? O Torres & Brinkman para equipamento. Para produtos alimentares uma mercearia a sério: La Grande Épicerie de Paris, 38 rue de Sèvres no VII.
Prato favorito? Foie Gras.
E petisco? Carpaccio de polvo.
Prato português favorito? Sopa (caldo) de peixe.
Restaurante favorito? Os restaurantes bascos em Madrid.
Conselhos ou normas de sabedoria? Cozer os legumes moderadamente (al dente).
Há alguma pergunta que gostaria que lhe fizéssemos?:Sim: “Porque é que eu gosto de cozinhar?” Não dou a resposta. Guardo isso para uma conversa mais profunda.
Uma das suas receitas favoritas:

Cataplana de Peixe

Peixe - Os melhores peixes para fazer a cataplana são peixe galo e tamboril;
Gambas grandes frescas ou medalhões de lagosta;
Cebolas novas, picadas fininhas;
Alhos franceses, cortados em rodelas finas;
Uma cenoura em juliana fina;
Tomate;
Um pimento murrone já assado, sem pele e graínhas, cortado fininho;
Azeite virgem;
Gengibre fresco;
Vinho branco seco;
Salsa e cebolinho;
Sal e pimenta.

Estufa-se os legumes no azeite, em lume muito brando. Afasta-se os legumes para os lados e acrescenta-se o peixe cortado em filetes pequeninos e as gambas ou medalhões de lagosta. Refresca-se com vinho branco e salpica-se com cebolinho e salsa picada. Fecha-se a cataplana muito bem e deixa-se cozer durante dez minutos.
Acompanha com batatinhas pequenas cozidas com pele. Depois de cozidas tira-se a pele.

O Foodie aplicado: "Comeres Alentejanos" de Mathilde Guimarães



Raramente nós que fazemos este blog, a T. o M. e o J., temos opiniões inteiramente coincidentes seja sobre o que for. Por isso, creio eu, nos damos tão bem e nos divertimos tanto com estas coisas de cozinhar e comer. Contudo nenhum de nós terá uma opinião sobre “Comeres Alentejanos” de Mathilde Guimarães que não seja de que se trata de uma das raras obras-primas da literatura culinária nacional. Pela abrangência dos conhecimentos, a honestidade e clareza das receitas e o amor pela tradição gastronómica alentejana que se lê em cada página. Para não falar nos curtos textos que ligam ou apresentam os vários capítulos. Deliciosamente evocativos de coisas que foram, amenamente proustianos mas sem qualquer pretensão. Segundo o ditado, o estômago seria o melhor caminho para o coração. Este livro, dedicado aos prazeres do primeiro, é no coração que nos fica.

Sabores da Rede: Chez Pim

Porque a inveja é um sentimento muito feio, por vezes fico meio sem jeito quando estou a ver “Chez Pim” dividido que me sinto entre esta e explosões de gula pura. Em http://www.chezpim.typepad.com encontra-se cada vez uma tal cascata de prazeres gulosos que perante eles, ao pensar no que, por mais que se procure fazer, é a vida por estas bandas, é difícil que uma pessoa não se sinta oscilar entre um sentimento de grande felicidade e a nostalgia do que fica além fronteiras.
A autora, Pim Techamuanvivit nasceu em Bangkok e instalou-se posteriormente em São Francisco. “Chez Pim – not an arbiter of taste” dá conta das suas viagens por esse mundo fora conduzida por uma bússola de sabores, sejam eles os mais elementares, sejam os do universo estrelado da alta-cozinha. Embora não seja uma cozinheira profissional (Pim já foi definida como “a professional eater”) as suas receitas, fotos e artigos têm sido publicados em diversos jornais e revistas entre as quais o New York Times, Food and Wine Magazine, Bon Appetit Magazine e Men’s Vogue.
Frequentemente premiado desde que foi criado há cerca de cinco anos, Chez Pim é definitivamente um dos mais deliciosos sabores que se pode encontrar na rede.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Ovos com Salmão (Maria Luísa Murteira)



6 ovos cozidos
200 gr. de salmão fumado
1 limão
12 camarões
2 kg. de peixe de caldeirada
1 garrafa de vinho branco seco bom
2 brancos de alho francês
2 cenouras
1 pacote de natas
1 molho de espinafres

Cozer os espinafres, passar por água fria e deixar escorrer bem, calcando com uma colher.
Faça um bouillon com a caldeirada, o alho francês, a cenoura e o vinho e deixe cozer até desfazer e reduzir para ½ l de caldo.
Passe este caldo por 2 passadores. No 2º passador, deve-se espremer com as costas de uma colher, para o caldo sair todo.
Cozer os camarões em muito pouca água. Depois de descascados, passar as cabeças no 1,2,3 e guardar.
Junte a água de cozer os camarões e as cabeças moídas ao caldo de peixe e acrescente as natas. Deixe ferver para engrossar.
Cortam-se os ovos ao meio, tiram-se as gemas que se misturam com o salmão picado, temperado de limão.
Cortam-se os camarões na horizontal, ao meio, e num prato de ir ao forno barrado com manteiga, colocam-se os ovos recheados, as metades de camarões por cima e fazem-se uns montinhos de espinafres que se intercalam com os ovos. Deita-se o molho no fundo do prato.
Vai ao forno, a 220º durante 10 minutos.

O nosso Inquérito: Paulo Silva.


Nome: Paulo Silva.
Cozinha muito frequentemente? Muito.
Para quem? Para mim, para a família e para os amigos.
Quando começou a cozinhar? Por volta dos 30(há cerca de 12 anos).
Seguiu algum curso? Não.
Há alguém que considere seu mestre? Não mas tenho aprendido muito com quem tenho vivido, com amigos, e com o que recordo do meu pai e da minha avó materna.
Livro de cozinha favorito? Tesouros da Cozinha Tradicional Portuguesa .
Qual é o prato que mais gosta de cozinhar? Gosto de pratos complicados que exijam várias actividades ao mesmo tempo (tipo preparar um peru recheado).
O que cozinha mais frequentemente? Massas.
Costuma aproveitar os restos de um prato que cozinhou e com eles fazer um novo prato? É raro; sou mais do tipo de ir comendo os restos frios até à manhã do dia seguinte. Mas detesto deitar restos fora.
Tem um produto favorito? Atum fresco.
Que tempero considera mais importante? Especiarias em geral – cravinho, noz-moscada, pimenta.
Tempero mais excessivamente valorizado? Piri piri.
Tempero mais injustamente esquecido? Açúcar (em pratos salgados).
Utensílio de cozinha mais indispensável? Relógio.
Tem um utensílio que considere “pessoal” ou “favorito”? Uma colher de pau com as duas faces convexas.
Interessa-se pela aplicação de novas tecnologias na cozinha? Pouco.
Quais são as suas lojas favoritas para produtos alimentares e equipamento de cozinha? Supermercado do Corte Inglés em Lisboa, Praça da Figueira (para bacalhau seco), Martim Moniz (produtos chineses / orientais). Para equipamento encontro quase tudo e barato na Pollux na rua dos Fanqueiros e algumas coisas muito excepcionais (e bem mais caras) na Torres e Brinkman na rua da Trindade; ainda não encontrei uma loja onde pudesse comprar um fumador de peixe e isso continua a ser uma lacuna.
Prato favorito? Qualquer tipo de caril de batata ou de galinha.
E petisco? Ovos mexidos com espargos.
Prato português favorito? Carne de Porco à Alentejana.
Restaurante favorito? O Pap’ Açorda em Lisboa continua a ser o meu preferido em qualidade e ambiente.
Conselhos ou normas de sabedoria? Recuperar o uso de toucinho fresco, banha de porco para ocasiões especiais.
Há alguma pergunta que gostaria que lhe fizéssemos? Sobre manias: como não gosto de números pares, cozinho sempre em quantidades ímpares - as pitadas de sal, os dentes de alho, as folhas de louro são sempre em número de um, três, cinco …
Uma das suas receitas favoritas:
Massa com courgettes:
Macarrão que junto depois de cozido a courgettes em quartos de rodelas grossas que estiveram numa frigideira com azeite, alho e pele do limão, até ficar transparente. No prato junto mais um fio de azeite cru e parmesão ralado.

Uma receita de “restos”:
Arroz frito – para reciclar arroz cozido, passo-o numa frigideira com um pouco de óleo de sésamo e muito gengibre e vou adicionando toda a sorte de legumes crus cortados, sempre começando dos mais rijos para os mais moles. Não ponho sal que substituo por molho de soja. Cozinho ainda com muitos chilis, combinando os verdes mais suaves com os vermelhos mais picantes. Deve ficar crocante.

O Foodie aplicado: "Appetite" de Nigel slater



As primeiras cento e cinquenta páginas de “Appetite” deviam ser leitura obrigatória para quem se decida a cozinhar, seja para si só, seja para a família ou amigos. Obrigatória porque nelas Nigel Slater, de um modo muito sucinto e claro, analisa todos os condicionalismos, intencionalidades, atitudes, técnicas, produtos e mesmo ementas mais recomendadas para cada mês do ano, em termos que nos fazem compreender e, consequentemente, melhorar o modo como se vem a concretizar a nossa vontade, ou necessidade, de fazer comida. Esclarece mesmo o modo como entende que se deve utilizar um livro de cozinha: “Quero encoraja-los a adoptarem o espírito das receitas que se seguem mas para depois se desviarem delas de acordo com os vossos ingredientes e os vossos sentimentos. A entender que tanto os nossos ingredientes como a nossa fome são variáveis que não devem, não podem, ser sujeitas a um conjunto de fórmulas escritas em tábuas de pedra. Quero leva-los a quebrar as regras. Quero que sigam o vosso apetite”.
Tenho este livro já há uns bons anos e já fiz uma boa parte das receitas. Funcionam às mil maravilhas. Mesmo quando me afastei do texto e segui o meu próprio apetite. Como deseja o autor.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

De babar: Manteiga Marinhas Tradicional.



Esta foi encontrada pelo Manel no El Corte Inglés. Tão digna de superlativos hiperbólicos como a Manteiga de Cabra de Palhais de que falámos há umas semanas. Embalada num estilo “retro” que agradará a muitos. É consolador pensar que existem no nosso mercado produtos desta qualidade fabricados entre nós. De tornar o pequeno almoço um real prazer. Pena é que a maior parte tenha de o tomar a correr, sem desfrutar condignamente destes prazeres reais.
Manteiga Marinhas Tradicional. Lacticínios das Marinhas. Esposende

Escrevem-nos: a Filó!

Recebemos mais um mail da Filó. Desta vez duplo, ou melhor triplo. Decidimos não publicar: 1) as queixas da Xana e 2) a receita de "Lagosta Fingida". Publicamos, contudo, o que era um bilhete para nosso uso pessoal. Tomamos esta liberdade por estarmos convencidos que poderá reflectir a sensibilidade de muitos dos nossos leitores.

Olá Meninos

Tenho estado a pensar na conversa que tive com a Teresa quando a encontrei na Armani da Avenida da Liberdade. Acho que foi na segunda. Ficámos as duas em adoração com o mesmo casaco. Chiquérrimo, todo cinzento prateado. Disse-me que estava óptima, vocês têm todos essa mania de estarem sempre óptimos, mas achei-a com um ar muito cansado. Coitadinha. Todo o trabalho que tem no escritório, sempre agarrada ao computador, e depois vai para casa e continua á volta do computador e só para vos fazer a vontade. Têm de confessar que é demais. Disse-me, mas para mim isso não é surpresa nenhuma, que tem havido muito mais gente a ver essa coisa que vocês agora fazem desde que lá puseram a minha segunda mail. Grande admiração. Finalmente alguém conhecido a dizer coisas normais. Moi! Esta vossa amiga!
Por isso decidi mandar alguns pequenos conselhos que acho que podem ser muitíssimo úteis. Oh se podem. Primeiro: se querem tornar-se conhecidos (e só pode ser para isso que estão com essa trabalheira toda) entraram pelo caminho errado. Essa coisa de computador não tem jeito nenhum. Toda a gente sabe que é mais uma dessas modas americanas que parecem muito boas mas que nunca duram. Reconheço que apesar de ser uma coisa complicada, funciona. Sim, de certo modo até funciona. Como todas essas coisas americanas. Mas é complicado demais para a maioria e por isso nunca vai rivalizar com os jornais nem as revistas. Esses é que são importantes e é aí que deviam ver se conseguiam escrever. Bem sei que é difícil entrar para esse meio. Mas é isso que deviam ver se conseguem em vez de passarem horas sem fio agarrados a essas máquinas horrorosas. Estão iguais à minha Xana. Tão amorosa mas tão tolinha. Protesta muito mas lá vou conseguindo que me escreva estas mails. Parece que chegam onde a gente quer, até vocês têm recebido as minhas. De todo o modo os telegramas eram uma coisa muito melhor.
Ainda por cima esses computadores só têm servido para tirar o emprego a muita gente. Mais um efeito terrível dessa globalização de que tanto falam. A propósito já sabem que o Tio António foi despedido do banco? Logo ele, já com aquela idade e que não tem jeito para nada. Mas é um senhor, com S grande. Como não há muitos. Coitadinho. O que vai ser da família toda? Porque vivia tudo à custa dele. Já sabiam, não sabiam?
Para mim, e ninguém me tira isso da ideia apesar de dizerem que foram dois maluquinhos numa garage mas isso só pode ser mentira, os computadores foram mais uma invenção desses génios alemães que os americanos raptaram e levaram para a América quando venceram a guerra. Gente extraordinária que inventou a penicilina, a bomba atómica e é óbvio que também essas maquininhas infernais.
Segundo conselho: Escrevem sobre assuntos e pessoas que interessem. Passam a vida a falar de Sesimbra, até de Almada, de coisas estrangeiras, de livros que não me parecem merecer a menor atenção. Nem percebo como ainda há gente que se deixa apanhar para essa do vosso inquérito. Já devem estar bem arrependidas. Agora até têm uma coisa que a Xana consegue pôs a dar um vídeo – em inglês. Que parvoíce. Prometam lá que não voltam a escrever sobre essa horrenda margem Sul. Porque não há pachorra. Não há. Podiam falar do Algarve. Ou mesmo de Campo d’Ourique. Ou da Quinta da Marinha. Sei lá. Este País está cheio de lugares lindos e de gente encantadora. E vocês com essas.
Agora vou ditar outra, para vocês publicarem. Porque isto é só mesmo entre nós. Mesmo o que isto é: Conselhos de uma Amiga mais experiente e sensata.
Beijinhos.
Agora vai a outra: uma receita fantástica.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

O nosso Inquérito: Margarida Ozturk



Nome: Margarida Ozturk.
Cozinha muito frequentemente?Sım.
Para quem? Para dois, às vezes para amigos também.
Quando começou a cozinhar? Há anos, em Inglaterra.
Livros de cozinha favoritos? Sim. Os do Jamie Oliver por exemplo.
Qual é o prato que mais gosta de cozinhar? Risottos , stır-frıed de frango,gambas,legumes, pastas dıversas. Quando vivia em Inglaterra gostava muito de cozinhar caça o que hoje em dia, por viver na Turquia, me é praticamente impossível.
O que cozinha mais frequentemente? Saladas dıversas, pastas, rısottos.
Costuma aproveitar os restos de um prato que cozinhou e com eles fazer um novo prato? Sim, depende dos restos.
Tem um produto favorito? Peixe fresco, cogumelos bravos, espargos bravos.
Que tempero considera mais importante? Ervas frescas.
Tempero mais sobrevalorizado? O sal.
Tempero mais injustamente esquecido?Gengıbre fresco ,ervas frescas.
Utensílio de cozinha mais indispensável? Uma boa faca, colher de pau, um bom tacho de cobre ou barro dependente do que se pretende cozınhar.

Tem um utensílio que considere “pessoal” ou “favorito”? Duas facas turcas.
Prato favorito? Em Portugal, sopa de lıngueırão,arroz de tamborıl com gambas, açorda de marısco , feıjoada de buzıos...Em Espanha, leitãozinho à Segóvia, uma boa paella a catalã. Em Inglaterra, pregado ou raia no forno com molho holandês e alcaparras, lınguado de Dover grelhado, ganso de veado no forno ,cozınhado em vınho tınto.Na Turquıa, caldeırada de mero.
E petisco? Flores de courgette recheadas, perceves.
Prato português favorito? Os de marisco em geral. Caldeirada algarvia.
Restaurante favorito? O “Fátima” em Valladolid, Espanha.
Conselhos ou normas de sabedoria? Utilizar sempre produtos frescos e da época, preferivelmente biológicos.
Uma das suas receitas favoritas: Nao necessarıamente a favorıta mas uma de restos...

Gratınado de restos de salmao com espargos, ovos cozıdos, ’’dıll’’,em molho bechamel.

Aproveıtam-se os restos de salmao cozıdo ao vapor depoıs de bem limpos de peles e espınhas e espalham-se num prato de ır ao forno. Em seguıda juntam-se os espargos cozıdos e cortados aos bocadınhos e 3 ovos cozıdos cortados as metades.Por cıma cobre-se com molho bechamel ao qual se juntou ‘’ dıll’’ fresco cortado aos bocadınhos. Vaı ao forno quente durante 20 mınutos aproxımadamente e os ultımos ¾ mınutos debaıxo do grıll. Serve-se com uma salada de agrıoes e laranja e com uma taça de Champagne bruto ou um Chardonnay..,

Sauteed Tangerine Shrimp

Parece delicioso. Que tal experimentar?

Escrevem-nos: Lino Gonçalves

Recebemos e publicamos já uma mensagem ultra simpática do marido de Angélica Martins que nos tinha escrito há dias:

Boa noite caros amigos,
Daqui escreve-vos o marido daquela senhora que diz que eu não sei a diferença entre um ovo cozido e um ovo estrelado.
Sabem qual é o problema dela? É que começa a perceber que com a ajuda deste blog facilmente posso começas a cozinhar bem melhor que ela.
Pois até que enfim aparece algo para ajudar os "azelhas" como eu, que se não existisse alguém que cozinhasse pra nós acabaríamos com anorexia ou outra doença do género.
É totalmente impossível conseguirmos sobreviver com batatas fritas e salsichas com ovo estrelado...ou será cozido?! Já não sei bem!
Como poderia dizer o Luisão das caipinhas, beleza de blog, né? Tem soluções pra tudo, até vídeos para que não hajam dúvidas na confecção!
Adorava conhecer a Filó, coitada da Xana!
Penso que conheço alguém muito parecido com essa vossa amiga, um pouco antiquada, quem sabe não nos iríamos dar muitíssimo bem. Será que ela cozinha bem? Que tal fazerem um vídeo com ela? Devia ser porreiro!
Com estas minhas palavras queria-vos mostrar que dá gosto participar em iniciativas destas, é útil, aprende-se, divertimo-nos e acima de tudo as ladies ficam fulas porque enquanto estamos a navegar no blog elas não têm hipótese de nos chatear (mais uma vez já é quase uma da manhã e a minha esposa à espera de vez para o computador, e calada, que estranho).
Parabéns!
Beijos e abraços

Dos Arquivos de "Na Cozinha com Elas".

Quando fizemos as entrevistas que, depois de aventuras múltiplas, acabaram por ser publicadas como “Na Cozinha com Elas”, recolhemos uma quantidade de material que não foi utilizado, sobretudo fotografias. Dado que algumas delas representam muito do tempo de toda uma série de mulheres extraordinárias, pensamos que seria da maior justiça publica-las. Muito também porque nos fazem recordar as horas passadas na companhia de pessoas fantásticas que nos acolheram com uma generosidade que nunca esqueceremos.

Maria Luísa Murteira

Maria Luísa Murteira recebeu-nos cordial e principescamente quando a visitamos para preparar a entrevista que saiu em “Na Cozinha com Elas”. Elegante e discreta parecia achar absolutamente normal que invadíssemos a sua casa e continuou a ler calmamente enquanto fotografávamos, primeiro a ela e depois o resto da casa.



Tinha mandado pôr uma mesa régia em nossa honra. Para as fotografias e para almoçarmos. Um almoço que, como sempre acontece em sua casa, foi uma cascata de delícias. Não esconde que cozinhar não é algo que a interesse particularmente. Prefere comer. E sabe mandar fazer.

Aqui, como em tudo o mais com ela, é o primado do espírito sobre a matéria, do elaborado sobre o dado inicial. Atenta aos detalhes, um sorriso de quem aceita a normalidade dos excessos e das fantasias dos outros enquanto paira numa calma total, a luz da enorme sabedoria de alguém que tem como passatempo favorito ler e reflectir.








Sorvete de Moscatel de Setubal



1 e ¾ chávenas de água (de preferência água mineral ou filtrada);
1 chávena de açúcar;
Sumo de um limão;
2 chávenas e mais um pouco de Moscatel de Setúbal.

Ponha a água e o açúcar ao lume e faça levantar fervura. Deixe ferver durante aproximadamente dois minutos, tire do fogo e espere que arrefeça.
Acrescente o sumo de limão e duas chávenas de Moscatel de Setúbal.
Gele numa sorveteira, de acordo com as indicações do fabricante.
Sirva regado com um pouco do Moscatel.

Pasta de Alperces Secos e Azeitonas Verdes



Mais do que simples, esta receita é um óptimo pretexto para tomar um copo ou fazer pacientar os que esperam pelo jantar.

10 alperces secos, migados;
20 azeitonas verdes, descaroçadas;
1 colher de sopa de Ricard;
Molho Inglês e Tabasco a gosto.

Processe todos os ingredientes num blender até obter uma pasta homogénea.
Sirva acompanhado de torradinhas e, já agora, um bom rosé.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

O Foodie aplicado: "Bill's Sidney Food", de Bill Granger



No prefácio de “Coast”,um livro de que falaremos um destes dias, Kendall Hill escreve a propósito da cultura culinária australiana:”We like to eat exceptionally well; we like to experiment, but we don’t like too much fuss; and, most of all, we like to share”.
Esta é uma descrição perfeita da cozinha de Bill Granger, tanto da que é oferecida nos seus diversos restaurantes como a que é a matéria dos sucessivos livros que tem publicado. O primeiro, “Bill’s Sidney Food” é uma boa ponta para começar a familiarizarmo-nos com um estilo de cozinha extremamente atraente e suficientemente simples para qualquer um o poder abordar sem complexos. Uma cozinha baseada na qualidade dos produtos e na fusão de várias tradições culinárias, particularmente o que o autor chama de “cozinha doméstica” e as várias cozinhas orientais, embora com um particular gosto pela cozinha campesina chinesa. Dadas as limitações locais em matéria de produtos, haverá uma série de receitas que não serão fáceis de fazer à maioria. Mas fica um número mais do que suficiente para nos iniciarmos neste modo de cozinhar inspirado numa filosofia de prazer e convivialidade, todo cheio de uma informalidade em que está implícita uma enorme sabedoria. Sabedoria das artes culinárias e sabedoria da arte de viver.

De babar: Ameixas d'Elvas



Há muito que a não via: a caixa de madeira branca com letras marcadas a fogo que para mim queria dizer “Ameixasd’Elvas”. E só ela. Nos últimos anos tinha comprado outras caixas, frascos, tudo muito mais parecido com tudo o mais, possivelmente mais “moderno”, mais vendível. Mas ficava sempre o sentimento de faltava qualquer coisa: a arca de um dos tesouros de pirata da minha infância, elemento fundamental numa lembrança que de tão perfeita parecia cada vez mais irreal. Não que tivessem deixado de ser uma delícia. Apenas lhes faltava qualquer coisa, como a luz de certos jardins de que nos lembramos e que só raramente quando a eles se volta encontramos de novo. Será o mesmo jardim mas o encanto não é o mesmo. Comia as ameixas, sem me conter, (só mais uma, só mais uma, só mais uma...) mas havia sempre a sensação que nenhuma delas era a perfeita, a da memória. Quando por acaso há dias me choquei com uma caixa tal como dela me lembrava, de madeira branca e letras marcadas a fogo, inocentemente esperando na prateleira de uma loja (arcas de pirata em princípio encontram-se em cavernas, ou no fundo do mar) fiquei, fiquei , fiquei e depois comprei-a e vim o mais depressa possível para casa. Muito melhor que qualquer “madeleine”, não? Senhor Proust?

O nosso Inquérito: Zilda Cufos


Nome: Zilda Cufos.
Quando começou a cozinhar? Aos 17 anos.
Seguiu algum curso? Não.
Há alguém que considere seu mestre? Minha cunhada Consuelo Cufos, cozinheira profissional.
Livros de cozinha favoritos? Os de Maria de Lourdes Modesto.
Em sua casa, cozinha muito frequentemente? Sim.
Para quem? Família.
Qual é o prato que mais gosta de cozinhar? Bacalhau.
O que cozinha mais frequentemente? Sopa.
Costuma aproveitar os restos de um prato que cozinhou e com eles fazer um novo prato? Sim.
Tem um produto favorito? Arroz.
Que tempero considera mais importante? Alho e cebola.
Tempero mais excessivamente valorizado? Os cubos Knorr.
Tempero mais injustamente esquecido? Louro.
Utensílio de cozinha mais indispensável? Panela.
Tem um utensílio que considere “pessoal” ou “favorito”? O “um, dois, três”.
Interessa-se pela aplicação de novas tecnologias na cozinha? Sim.
Prato favorito? Massas.
E petisco? Pipis.
Prato português favorito? Cozido à Portuguesa.
Restaurante favorito? Las Brazitas, no Pátio Bagatelle.
Conselhos ou normas de sabedoria? Cozinhar devagar.
Há alguma pergunta que gostaria que lhe fizéssemos? Sim: “Porque é que gosto de cozinhar?” Porque cozinhar me dá grande prazer e é extremamente gratificante ver as pessoas comerem os meu pratos e gostarem deles.
Dos pratos que costuma cozinhar em casa, uma das suas receitas favoritas:

Arroz de Marisco

Faço um refogado com bastante cebola, alho e um cubo de caldo de marisco. Abro os mariscos (costumo usar amêijoas, camarões, pernas de caranguejo gigante, navalhas, etc.) e aproveito-a para cozer o arroz. Uso sempre Arroz Perfumado, que é parecido com o Basmati mas mais fino. Cozo o arroz com os mariscos, durante 10 minutos. Em seguida deixo apurar até estar a gosto.

Uma receita de “restos”:

Empadão de Carne

Preparo um refogado com alho e cebola. Nele coloco os restos de carne para ganhar sabor. Em seguida passo tudo pelo “1,2,3”. Preparo um puré de batata em que utilizo sempre, manteiga, leite e um pouco de natas. Num prato de ir ao forno ponho uma camada de puré, uma de carne e mais uma de puré. Pincela-se com gema de ovo. Vai ao forno, aquecido a 200º, até ficar douradinho.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Borrego Guisado com Feijão Branco.


Um prato que apetece com o mau tempo que tem feito. Ideal para um jantar prolongado, numa noite de Inverno, com um grupo de amigos ou a família inteira. Prefiro servido em pratos de sopa e comido à colher. Com um bom Douro a acompanhar.

Receita para 6/8 pessoas.

1 perna de borrego, cerca de 2,5 kl, desossada, limpa e cortada em cubos de 2cm;
1e1/2 chávena de sumo de laranja;
6 dentes de alho, migados depois de remover o grelo;
1 pedaço de gengibre de cerca de 3cm, finamente migado;
1 chávena de folhas de hortelã, migadas
2 colheres de sopa de azeite;
2 colheres de sopa de farinha;
2 chávenas de cenoura, cortada numa robusta julienne;
1e1/2 chávena de vinho branco seco;
1e1/2 chávena de caldo de carne;
1 mão cheia de folhas de louro;
1 colher de chá bem cheia de orégãos secos;
1 estrela de anis;
2 paus de canela;
1 colher de chá de pimenta preta em grão;
½ colher de sopa de raz el hanout ou, não sendo possível, 1 colher de chá de cominhos moídos;
½ colher de sopa de sementes de coentro;
2 chávenas de tomate picado;
2 chávenas de feijão branco, cozido;
1 chávena de azeitonas cortadas às rodelas;
½ chávena de salsa picada.
250 g de farfalle (lacinhos);
Sal.

3 horas antes: Ponha o borrego numa marinada feita com o sumo de laranja, alho, gengibre e hortelã
Aqueça o forno a 200º.
Retire o borrego da marinada e seque-o. Reserve a marinada.
Numa panela pesada, aloure o borrego no azeite. Possivelmente não poderá ser de uma só vez. Isto feito, polvilhe o borrego com a farinha e cozinhe sobre fogo rápido até ter ficado absorvida toda a gordura. Acrescente as cenouras, marinada, vinho, caldo de carne e temperos.
Tape a panela e leve-a ao forno. Baixe a temperatura deste para 135º.
1 hora depois acrescente os tomates. Continue a a cozinhar no forno com a panela tapada.
30 minutos depois acrescente o feijão branco. Continua a cozinhar no forno mas sem a tampa.
(Entretanto, coza a massa mas apenas metade do tempo de cozedura indicado na embalagem).
20 minutos depois acrescente a massa e as azeitonas. Volta ao forno, destapada.
5 minutos depois tire do forno, verifique os temperos e acrescente a salsa.
Foi muito mais fácil do que parecia ao ler a receita e tem obrigação de estar delicioso.

O Foodie esclarecido: Cogumelos Secos.



Foi o Paulo, da DeliDelux, quem primeiro os tinha aconselhado: “Devia experimentar estes. São portugueses e muito bons”. (Para quem não conheça, o Paulo é a maior mais valia da DeliDeluxe. Simpático, muito conhecedor e generoso com o seu tempo. Quando em dúvida, peça-lhe conselho. Verá que quase sempre é perfeito. E, já agora, peça-lhe sugestões para aquela garrafeira que há anos pensa começar.) Como de costume o Paulo tinha dado a dica certa. Os cogumelos (porcini, girolles, morilles, shiitake são os que tenho usado) são realmente muito bons, tão bons como os vindos de fora que costumava comprar. Preparados por José Carlos Martins Neves, na Branca. E-mail: fungus@clix.pt

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

O nosso Inquérito: Angélica Martins António



Nome: Angélica Cristina Martins António.
Cozinha muito frequentemente? Sim, todos os dias.
Para quem? Para a minha família – marido e filha.
Quando começou a cozinhar? Regularmente e a sério, apenas à cerca de 3 anos. Cozinhar nunca foi o meu forte, e cozinhava apenas quando era obrigada.
Enquanto estudei em Lisboa, cozinhava muito porque estava fora de casa e não tinha ninguém que cozinhasse para mim. Naquele tempo confesso que comecei a achar que era um passatempo engraçado. Depois houve um tempo de quebra, e agora desde que casei tenho passado a cozinhar muito mais e com mais gosto.
Seguiu algum curso? Não.
Há alguém que considere seu mestre? Acho que não. A palavra mestre pra mim é associada a alguém que muito bem o sabe fazer e o ensina e um outro alguém que com o mestre consiga aprender. Conheço pessoas que cozinham muitíssimo bem, mas como sou incapaz de os “seguir” penso que não os posso considerar meus mestres, infelizmente.
Livro de cozinha favorito? Pantagruel.
Qual é o prato que mais gosta de cozinhar? Bacalhau com natas.
O que cozinha mais frequentemente? Sopas.
Costuma aproveitar os restos de um prato que cozinhou e com eles fazer um novo prato? Sim, por vezes. Principalmente os restos de carne para fazer empadão.
Tem um produto favorito? Não me ocorre nenhum.
Que tempero considera mais importante? O sal.
Tempero mais excessivamente valorizado? Igualmente o sal e o piri-piri.
Utensílio de cozinha mais indispensável? Um bom cutelo e a amiga colher de pau.
Tem um utensílio que considere “pessoal” ou “favorito”? Não.
Interessa-se pela aplicação de novas tecnologias na cozinha? Um pouco.
Costuma consultar sites da internet dedicados a temas culinários? Sim, muitas vezes.
Quais são os seus sites favoritos? Nenhum site em especial. Costumo pesquisar no google receitas com o nome de algum alimento que me apeteça cozinhar. De agora em diante concerteza irei antes de mais consultar o vosso.
Quais são as sua
s lojas favoritas para produtos alimentares e equipamento de cozinha? Em Coruche, onde vivo, não existe assim nenhuma loja de produtos alimentares que possa considerar favorita, até porque por vezes encontram-se ingredientes mencionados em receitas, que procurando em todos os super e hipermercados da zona não se encontram. E fora daqui ainda não me habituei a procurar. Em relação aos equipamentos, idem.
Prato favorito? Qualquer prato que contenha marisco.
E petisco? Quase todos são favoritos. Adoro petiscar.
Prato português favorito? Cozido à portuguesa para carne e sardinhas assadas para peixe. Bem português!
Restaurante favorito? Uma boa marisqueira.
Conselhos ou normas de sabedoria? Não comer em demasia ... o que não significa que o siga à risca.
Uma das suas receitas favoritas:

Também considerada uma receita de “restos”, gosto muito de “açorda de camarão”.


Uma das minhas favoritas primeiro porque dá para aproveitar os restos de pão duro que vai sobrando e depois porque claro está, tem camarão.
Muito fácil (que aliás pra mim teria mesmo que ser): Poê-se ao lume um tacho com água a ferver, um ramo de coentros e um caldo knorr (de preferência de peixe porque combina melhor com o sabor do camarão). Depois de os coentros terem fervido um pouco retiram-se do tacho e junta-se os camarões à água só até levantar fervura para que estes não fiquem demasiado cozidos.
À parte, faz-se um tipo de refogado apenas com azeite e alhos cortados aos pedaços bem pequenos. Tempera-se com um pouco de piri-piri. De seguida junta-se ao azeite os camarões préviamente meio cozidos.
Entretanto, na água da cozedura, metem-se de molho umas fatias de pão com as quais de pretende fazer a açorda. (pode fazer-se com o lume já apagado ou não, conforme a consistência do pão)
Depois de o pão estar completamente mole, junta-se-lhe os camarões com o azeite e os alhos.
Finalmente, e já depois do lume apagado, acrescentam-se dois ou três ovos (conforme a quantidade), que se envolvem enérgicamente no pão e nos camarões, e coentros picadinhos.

Uma receita de “restos”:

Empadão de carne

Depois de aproveitadas as sobras de carne cozida ou assada, levam-se a refogar um pouco com azeite e cebola. Junta-se pimenta moída na hora a gosto e se se gostar um pouco de piri-piri.
Coze-se arroz ou faz-se um puré de batata (pessoalmente prefiro o puré de batata). Mete-se num tabuleiro de ir ao forno uma camada de arroz ou de puré, uma camada de carne e finalmente outra camada de arroz ou de carne.
Por cima espalha-se umas gemas batidas e umas rodelas de chouriça.
Vai ao forno.

Sabores da Rede: Cinco blogs portugueses.

Procura uma ideia para o jantar? Não consegue decidir-se sobre o que comprar na passagem pelo supermercado a caminho de casa? O dia no escritório está lento, é cedo demais para sair, não tem nenhum jogo novo no computador mas já não está para fazer mais nada e, nesses dias é sempre assim, também não lhe vem qualquer ideia do que lhe apeteceria comer. Primeiro veja o nosso T.M.J. Nem esse lhe diz nada? É altura de visitar vários blogs aqui da terra onde vai certamente encontrar inspiração. Ou, se for como eu, entreter-se tanto que vai chegar tardérrimo a casa e acabar por comer e dar à família qualquer congelado que tenha ficado esquecido no freezer.
“Culinária daqui e d’ali” -
http://www.culinaria.weblog.com.pt – é uma espécie de Pantagruel on line. Sem fotografias mas uma infinidade de receitas. Ponha-o já nos seus “Favoritos” porque a utilidade é evidente.
“Ovo Estrelado” -
http://www.ovoestreladoemexido.blogspot.com; “Elvira’s Bistrot” - http://www.elvirabistrot.blogspot.com/; e “Cinco Quartos de Laranja” - http://www.cincoquartosdelaranja.blogspot.com , são muito parecidos. Muito simpáticos e bons de se ver. Bonitas fotografias e um monte de receitas apetecíveis e fáceis. Também para pôr nos “Favoritos”.
Noutro cenário, em que esteja com um bom bocado livre, de espírito positivo e com vontade de aprender, “O Gosto de Bem Comer” -
http://www.gosto-comer.blogspot.com é o destino ideal. Vá lendo e se já forem três da manhã e ainda aí estiver, não se admire. Mas não diga que não foi avisado.

Escrevem-nos: Angélica Martins

Tinhamos agendado para amanhã a publicação da resposta de Angélica Martins, uma querida amiga de Coruche, ao nosso inquérito. Entretanto ela decidiu tomar já a palavra. Aqui vai:

Olá amiguinhos.
Antes de mais sinto-me na obrigação de vos congratular por esta vossa obra, que não deixa de ser uma óptima ferramenta de aprendizagem.
Mais, confesso que me esqueço e me perco dentro de tão espectacular forma de cultivo.
Não vejo a hora de, noite após noite, arrumar a cozinha à pressa para me instalar defronte do portátil (por sinal oferecido por um grande amigo que vocês não conhecem nem poderiam sequer imaginar quem seja) para vos visitar.
Pois é aí que a coisa começa a correr mal, é que sempre que chego à sala com aquele intuito, qual não é o meu espanto quando me deparo com o senhor meu marido a deliciar-se também ele nestes prazeres da arte de bem cozinhar e comer que vocês muito bem transmitem.
Não, não, não podem imaginar......ocupa o computador por toda a noite!!!!!!!!!!!
Eu fico à espera que desista, mas e como se costuma dizer, quem espera desespera, acabo sempre por deixar-me dormir no sofá.
Não há direito! Ainda por cima ele que nem sabe a diferença entre um ovo cozido e um ovo estrelado, interessa-se agora por navegar nestas bandas.
Pois é por isso que digo e repito se for preciso, o vosso sucesso é sem duvída a minha desgraça, não tenho hipótese alguma! Vá lá vá lá, tive hoje porque finalmente começou a bocejar antes de mim.
Não se admirem se os processar por serem causadores de desavenças familiares no seio de tão tranquilo lar.
Mas eu juro que a vingança vai ser terrível, já pensei em 3 hipóteses: 1-alterar a password do pc; 2 - alterar a password do adsl ou então; 3 - colocar à entrada de casa uma maquineta daquelas com senhas de vez, e como normalmente sou eu que chego primeiro a casa, já estão a ver o filme não é?
Por falar nessas maquinetas, sabiam que finalmente a repartição de finanças aqui do centro do mundo ganharam dinheiro para adquirir senhas para as ditas que lá estão pregadas na parede à "carradas" de tempo sem as mesmas
? Não sabiam pois não?! É verdade, progressos! Mas não se pode fazer muita festa, é que segundo dizem, só se vão utilizar nesta fase de entrega do IRS. Pois acho muito bem, é que as finanças até é um sitio onde quase nunca ninguém aparece, não há filas ou bichas como se diz por cá, se se lá vai é pra pagar ou falar de impostos, a quem é que isso interessa? A ninguém! Além disso o papel está caro e o estado não está para gastar dinheiro com essas banalidades.
Eu quando lá estou uma manhã inteira para ser atendida, não é por causa de estar muita gente à minha frente, nem pensar, é simplesmente porque adoro estar lá a olhar para os bonitos olhos das funcionárias, e então vou deixando as outras pessoas passar à minha frente.
Desculpem esta última parte, foi só um desabafo.
Quanto ao resto e primeira parte da mensagem, humm
desculpem também qualquer coisinha.
Beijinhos vou pensar se merecem

P.S. (querem saber um segredo?) É tão agradável navegar neste blog que só por isso já nem estou zangada convosco. Beijo, beijo, beijo (um pra cada um porque desavenças bastam estas aqui eh eh eh)

Uma tapenade ligeira


Uma receita em que a exactidão é secundária e em que pode experimentar com os temperos. Ou mesmo acrescentar outros ingrediente (anchovas, atum) a seu gosto. Rápida de fazer, é excelente servida sobre pão torrado e acompanhada, meu ponto favorito, por um rosé ultra gelado. É o sabor das férias.


1 beringela, descascada e cortada em cubos de cerca de 2cm.;
250 g. de azeitonas verdes sem caroço;
2 colheres de sopa de alcaparras;
1 e ½ colher de sopa de mostarda de Dijon;
1 colher de sopa de azeite mais 2 colheres de sopa de azeite para cozinhar a beringela;
1 colher de sopa de Ricard;
Sal e pimenta branca a gosto.

Cozinhe os cubos de beringela sobre um fogo rápido. Verá que quando estiver cozinhada, a beringela devolve muito do azeite que de início absorveu.
Deixe os cubos de beringela, que devem estar dourados mas não tostados, arrefecer sobre papel absorvente.
Ponha todos os ingredientes num mixer e trabalhe-os até obter uma massa homogénea. Se necessário acrescente um pouco mais de azeite para que a massa seja mais facilmente processada.
Verifique o tempero.
Está pronto. Curta!

O Foodie aplicado: "Coisas da Terra e do Mar - Sabores da Cozinha Algarvia", de José Vila.



Lembro-me, já faz uns anos, a primeira vez que topei com a receita de Favas à Algarvia na página 65 de “Coisas da Terra e do Mar – Sabores da Cozinha Algarvia”. A ideia pareceu-me, primeiro, pelo menos de desconfiar. Depois pensei que seria um desafio intrigante. Por fim foi: cozinhar, comer, alarvar mesmo, e entender que estava perante uma combinação perfeita. Um prato de génio. Alguns dias depois o mesmo com o “Jantar de Lentilhas”, na página 119. Bom de se perder a vergonha. Desde então o livro de José Vila tem sido um companheiro de viagem. Que se lê pelo prazer de imaginar os sabores das receitas, que se lê quando se procura uma ideia nova, ou quando o tempo está frio e cinzento e se tem saudades do sol e do mar. Que se volta a ler para recordar como se cozinha um prato de que nos ficou uma lembrança reconfortante. Porque reconfortante é a palavra que me vem à mente quando se fala deste livro: Uma escolha de receitas que dá uma visão aliciante da tradição culinária algarvia, bem escritas e suficientemente claras e precisas para não ser um quebra-cabeças cozinha-las. Escolhidas por alguém que só pode ser um devotado crente daquilo que prega. E que sabe certamente muito bem do que está a falar. Por último as fotografias de João Mariano, vivas, esclarecedoras, cheias de cor e que, talvez isso seja o mais importante, aumentam, oh se aumentam, o já excessivo apetite e a vontade de cozinhar. Houvesse mais livros assim...

Escrevem-nos: novamente a Filó.

Recebemos nova mensagem da nossa amiga muito querida Maria Filomena Mendes de Ataíde que, daqui em diante para simplificar (veja-se abaixo) designaremos apenas por Filó, nome pelo qual toda a gente sempre a conheceu. Intimou-nos, pelo telefone, a publica-la. Portanto, aqui está:

Vamos a isto!
Primeiro aprendam a escrever o meu nome. Mendes é o senhor Jorginho, da farmácia aqui ao lado. Mendez, com z, somos nós, uma família que saiu de Portugal no século XVI e que já deu ao Mundo grandes investigadores e banqueiros. Os Saffra e os Rotchild são nossos primos. Ataíde é o simpático jovem que trata dos nossos seguros. Os Athayde, com h e y, foram exploradores célebres, Capitães nas caravelas dos nossos Reis, três chegaram a Vice-Reis da Índia mesmo. Esses somos nós. Sou eu! Até parece que não sabiam isto. Coitadinhos.
Devem estar muito contentes com as tristes figuras que têm andado a fazer. Muito contentes com o referendo, com o vosso recadinho para a Leonor Xavier. Pensar que essa inconsciente andou no mesmo colégio que eu, esteve connosco no Brasil, no Rio de Janeiro, onde nos víamos tanto durante os anos negros do 25 de Abril, que foi várias vezes a pé a Fátima com o meu grupo. E agora tem a lata de aparecer na televisão a defender o “sim”. Que descaramento. Dela e vosso. Se têm essas ideias completamente inaceitáveis, imorais e doentias que as guardem para vocês em vez de andarem por aí a fazerem-se de importantes. Como se alguém vos fosse ligar.
Podiam ao menos também ter tido um gesto com a Ana Pestana, que ainda por cima é tão vossa amiga e prima da Teresa. Uma rapariga completamente devotada e que tanto se empenhou na defesa da causa certa, lá em Portalegre! Ainda mais porque tenho andado tão preocupada com ela. Já viram o que ela está a fumar? Meu Deus! Ou então com qualquer das minhas amigas que tanto se sacrificaram. Ou a própria Isilda. Exemplo fantástico para todas nós.
E no meio desta tragédia vocês fazem todos esses disparates e ficam muito contentes, muito sonsinhos. Eu bem os entendo. Não pensem que sou parva e me conseguem enganar. É por causa de gente como vocês que tudo isto chegou ao estado em que está. Ai Doutor Salazar, Doutor Salazar. Que pena não poder estar aqui e pôr todos estes desgraçados na ordem.
Mas esta história ainda não acabou. Viram o tremor de terra na segunda-feira? É assim que fala o Senhor Todo Poderoso. Ele só pode estar irado com este povo. Povo que no passado foi tão glorioso e levou aos quatro cantos do universo a Cruz de Cristo. E agora isto. Votam sim. Que vergonha! Que castigo imenso dará o Céu à imoralidade, ao desleixo, dos portugueses? Mas nós, juro-vos por tudo, não vamos de deixar esta história ficar por aqui. É uma questão demasiadamente importante para se poder aceitar a derrota assim logo à primeira. Até porque fomos nós que ganhamos. Não tenham dúvidas, meus lindos. É mais que certo que os que não votaram eram a favor do não. Disso estou eu segura.
Tinha muito mais coisas para vos falar mas a Xana está para aqui a bufar e a querer pôr nos ouvidos aquela coisa que parece um isqueiro com fios e que ela agora usa permanentemente para fingir que não me ouve.Hoje estou realmente possessa, fula com vocês. Nem vos mando um beijinho.




Tio – a mulher, se já era histérica agora enlouqueceu vez. Um desatino nesta de me ditar coisas. Como se eu tivesse voltado para as Escravas e tivesse de fazer ditados. Depois tem sido um corrupio nesta casa. As amigas ainda são piores do que a Mãe. Agora só falam no desagravo. Ir a Fátima a pé ou qualquer cena do género. Estou a pensar que se isto continua ainda me mudo para casa do Gonçalo. Quando lhe falei não me pareceu muito contente mas se isto continuar um manicómio tem mesmo de ser. O tio podia dar-lhe uma palavrinha. Beijos da Xana

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Escrevem-nos: João Rito

Não resisto a publicar este mail que acabamos de receber do João Rito. Adorei os elogios e vamos pôr em prática a sugestão. Ficamos à espera das contribuições dele. E de quem mais queira escrever.

Não bastava a curiosidade que tenho todos os dias de ver os e-mails recebidos, e que por vezes nos fazem “perder” muito tempo com vídeos estúpidos de desastres, quedas e atropelos de velhotas, animais a dançar, moças com mamas descomunais, etc, etc, mas que nos divertem bastante, (quando não são pensamento do dia ou do mês e alertas para termos cuidado com tudo e mais alguma coisa) agora tenho mais esta curiosidade de ver o blog, mesmo não percebendo nada de cozinha (prefiro a sala de jantar).
Agora pergunto eu, quem me paga estes minutos preciosos??? Quando é que consigo tirar tempo para trabalhar? É que a curiosidade é tanta que chego a visitar-vos mais que uma vez por dia! Já repararam no número de visitantes a aumentar? SOU EU!!!!!!
Muitos parabéns pela ideia e concepção. Está muito interessante e divertido.
Como única sugestão, e como já disse à Teresa, talvez criar um espaço para podermos falar das nossas visitas a novos e velhos restaurantes, com opiniões, criticas, pontuação (decoração, serviço, o comer, etc.), fotos, etc. Aí sim podia falar por exemplo da minha visita ao Bikini clube, onde comi bifinhos com champinhones, que curiosamente sabem ao mesmo dos habituais champinhons, enquanto no palco elas e eles fazem strip de nu integral (elas) ou com uma mão na frente (eles, e a mão é deles também…). E não peçam a sobremesa especial erótica da casa, ou acabam no palco a apanhar com o gelado na cara, que elas põem primeiro nas maminhas, e depois as abanam com a vossa cara no meio, sentadas no vosso colinho. Nenhuma cliente do restaurante pediu a referida sobremesa, mas calculo que nesse caso entrasse em palco um dos strippers, e imagino o pior…
Beijos e abraços, até breve
João Rito

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

O nosso Inquérito: Alexander Koch



Nome: Alexander Koch.
Cozinha muito frequentemente? Quase todos os dias.
Para quem? Os meus, e de vez em quando só para mim.
Quando começou a cozinhar? Aos 18 anos.
Seguiu algum curso? Não.
Há alguém que considere seu mestre? Aprendi o básico com a minha mãe mas olho muito para as mãos e tiques de cozinha dos outros.
Livro de cozinha favorito? Não consigo cozinhar com receitas.
Qual é o prato que mais gosta de cozinhar? Tudo que não tem fritos.
O que cozinha mais frequentemente? Para o dia a dia cozinho muito com legumes, massas e arroz. Quando há mais tempo para compras e mais pessoas à mesa gosto de fazer pratos no forno tipo borrego, cabrito ou peixe ao sal.
Costuma aproveitar os restos de um prato que cozinhou e com eles fazer um novo prato? Quando cozinho não há restos.
Tem um produto favorito? Cabrito.
Que tempero considera mais importante? Limão,alho,sal.
Tempero mais excessivamente valorizado? Açafrão.
Tempero mais injustamente esquecido? Gengibre.
Utensílio de cozinha mais indispensável? Uma boa faca e toalhas para manter tudo limpo.
Tem um utensílio que considere “pessoal” ou “favorito”? Trago ou encomendo sempre quando vejo facas boas ou com formas fora do comum mas só tenho uma relação com a minha querida faca de legumes que já tem 10 anos. É sempre a primeira pessoa que tenho nas mãos.
Interessa-se pela aplicação de novas tecnologias na cozinha? Não tenho muita paciência para cozinhas com milhões de aparelhos diferentes para cada tarefa.
Costuma consultar sites da internet dedicados a temas culinários? A partir de agora uma coisa que se chama
www.teemejota.blogspot.com. Não sei se conhecem.
Quais são os seus sites favoritos?
http://www.alexanderkoch.com.
Quais são as suas lojas favoritas para produtos alimentares e equipamento de cozinha? Algumas lojas no Martim Moniz, a mercearia Álvaro no meu bairro, Polux Industrial, o Clube Gourmet do El Corte Inglês, e a Mercado de Campo de Ourique.
Prato favorito? Entre vários adoro o mais simples: peixe grelhado.
E petisco? Ovos de codorniz estrelados em enchidos alentejanos com coentros e pimenta três cores.
Prato português favorito? Feijoada com dois dias de solidão.
Restaurante favorito? O Aya para o sushi. A Bica pelo ambiente, alguns pratos, os mimos que me dão e a paciência que têm comigo. O “Afonso” em Mora para comer e morrer por mais.
Conselhos ou normas de sabedoria? Hm???????????????????????????
Há alguma pergunta que gostaria que lhe fizéssemos? “Queres jantar lá em casa?” É uma pergunta sempre bem vinda.


Uma das suas receitas favoritas:

Lombos de borrego no forno com crosta de ervas e mostarda.

Tudo isto feito num molho de vinho tinto, vinagre balsâmico e limão.

Uma receita de “restos”:

Não ha restos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

De babar: Os Rebuçados do Ovo de Portalegre.



Agora que sabemos que os ovos não matam e que a magreza excessiva é coisa feia, próxima de crime, entregarmo-nos a certos prazeres deixou de ser culpabilizante. Mas continuam a ser prazeres. Mas não deixaram de ser absolutamente deliciosos. Estes Rebuçados de Ovo de Portalegre. Felizmente cada caixa só tem seis. Mais do que isso começa a ser abuso.

O Foodie aplicado: "Charlie Trotter cooks at home".



“Charlie Trotter cooks at home” é bastante semelhante a “Simple Pleasures” de Alfred Portale, de que se falou a semana passada. A mesma situação: um dos mais reputados super chefs, conhecido pela complexidade das suas receitas, propõe uma sucessão de pratos cuja realização está ao alcance de qualquer cozinheiro amador minimamente empenhado. Contrariamente a Portale, Charlie Trotter tem uma longa experiência tanto de livros como de programas de tv destinados a amadores, principiantes mesmo. O seu “Gourmet Cooking for Dummies”, que data de 1997, era uma excelente introdução à cozinha. Para qualquer nabo.
Um livro de utilidade óbvia, “Charlie Trotter cooks at home” prova, à exaustão, que não é necessário complicar métodos nem amontoar produtos para chegar a excelentes resultados.

As boas moradas da margem sul: A Charcutaria Espaço Gourmet.

Para muitos, a margem sul do Tejo ainda é um pouco, na verdade "absolutamente", o “wild west” dos filmes de cowboys. Um lugar que se sabe que existe, onde vivem foragidos, excêntricos ou quem não tem meios para se mudar para o “bom” lado do rio e por onde se passa discreta e cuidadosamente a caminho da praia. O mundo recomeça lá para os lados de Azeitão ou Palmela. Mas tal como o “Oeste Selvagem” se transformou num antro de saber viver e excessiva riqueza, quem se der uma oportunidade de vir ver o que por aqui na realidade se passa estará em rota para um grande choque. Mesmo sem falar do super-luxo da Quinta do Peru e outros projectos que tais, pouco a pouco, ao longo do passeio, se tornará cada vez mais óbvio que deste lado há uma qualidade de vida igual, eu diria melhor, do que a da capital e de muito do que a circunda. Esquecendo as praias, que por aqui sempre estiveram, o corajoso visitante vai encontrar os golfes, os centros hípicos, os clubes de ténis, os teatros e cinemas, os festivais, as urbanizações, os restaurantes e o comércio que nada ficam a invejar ao que existe no superlotado outro lado. Isto tudo para chegar à recente abertura da “Charcutaria Espaço Gourmet” no Almada Fórum. Não será o El Corte Inglés nem a DeliDeluxe mas oferece toda uma série de produtos de óptima qualidade que permitem aos foodies locais variar os seus menus em termos muito significativos. Com a vantagem de ser servida pelo estacionamento gratuito e imenso daquele centro comercial. Já não se tem de atravessar a ponte nem enfrentar o caos lisboeta quando numa de comprar porcini secos, ameixas d’Elvas ou uma garrafita de Dom Pérignon. Tão a ver????

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

O Foodie apressado: Camarões num Caldo de Laranja e Moscatél de Setubal.

Embora se faça em menos de 45 minutos o resultado é absolutamente espectacular. E delicioso!

Para 4 pessoas.

400 gr. de miolo de camarão;
1 pepino pequeno, descascados e cortado em cubos pequenos de pois de se lhe tirar as sementes;
1 cenoura média, descascada e cortada em cubos do mesmo tamanho;
6 a 8, conforme o tamanho, cogumelos brancos, limpos e cortados em quartos;
6 dentes de alho, descascados e migados depois de se lhes tirar o grelo do interior;
1 pitada de fios de açafrão;
1 colher de chá de grãos de pimenta preta;
1 colher de chá de grãos de pimenta de Setchouan;
1 colher de chá de sementes de coentro;
1 estrela de anis;
1 ramo de erva limão, descascado e cortado aos pedaços (ou uma colher de sopa de erva limão congelada);
1 colher de sopa mal cheia de Nam-Pla (molho de peixe tailandês);
Sal;
75 gr. de manteiga;
1 chávena de sumo de laranja;
Sumo de um limão;
Sumo de uma romã;
1 chávena de Moscatel de Setúbal.
½ chávena de salsa picada.
(Caso não tenha à mão alguns dos temperos menos correntes ou o sumo de romã, esqueça-os e continue com a receita depois de acrescentar o sumo de mais uma laranja).


Ponha todos os ingredientes, exceptuando os camarões e a salsa, ao lume. Faça levantar rapidamente fervura e cozinhe a lume médio/alto durante 15 minutos.
Acrescente os camarões, deixe levantar fervura e cozinhar durante um a dois minutos, até que estes deixem de parecer transparentes e tomem uma cor rosada.
Tire do lume, verifique o sal, acrescente a salsa.
Sirva imediatamente sobre arroz Basmati.

Dos arquivos de "Na Cozinha com Elas"



Quando fizemos as entrevistas que, depois de aventuras múltiplas, vieram a ser publicadas como “Na Cozinha com Elas”, recolhemos uma quantidade de material, sobretudo fotografias, que acabou por não ser utilizado. Dado que algumas delas representam muito do tempo de toda uma série de mulheres extraordinárias, pensamos que seria da maior justiça publica-las. Muito também porque nos fazem recordar as horas passadas na companhia de pessoas fantásticas que nos acolheram com uma generosidade que nunca esqueceremos.

Maria João Bustorff



Não é meu costume, mas cheguei atrasada para a entrevista de Maria João Bustorff. Quando entrei no seu gabinete, falava animadamente com o Zé Guilherme sobre o Rio, numa boa disposição que se adivinha ser constante quando se está na sua companhia.
Vestia calças de pele e gola alta castanhas que lhe ficavam realmente bem, realçando o charme e a natural elegância que se lhe cola à pele. Não admira que Manuel Alves, da notável dupla Alves/Gonçalves, se inspire quando cria para ela. Não admira, também, que Maria João o tenha querido homenagear ao dar-nos a sua receita de perdizes.(TCD)








Estava tão entretido com a conversa que a entrevista quase acabou em desastre, com as fotografias a ficarem com um efeito supersoft porque me esqueci de limpar bem uma das lentes. A caixinha de receitas era aliciantemente misteriosa. Custava a crer que só guardasse segredos culinários.(JSV)