segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007
De babar: Ameixas d'Elvas
Há muito que a não via: a caixa de madeira branca com letras marcadas a fogo que para mim queria dizer “Ameixasd’Elvas”. E só ela. Nos últimos anos tinha comprado outras caixas, frascos, tudo muito mais parecido com tudo o mais, possivelmente mais “moderno”, mais vendível. Mas ficava sempre o sentimento de faltava qualquer coisa: a arca de um dos tesouros de pirata da minha infância, elemento fundamental numa lembrança que de tão perfeita parecia cada vez mais irreal. Não que tivessem deixado de ser uma delícia. Apenas lhes faltava qualquer coisa, como a luz de certos jardins de que nos lembramos e que só raramente quando a eles se volta encontramos de novo. Será o mesmo jardim mas o encanto não é o mesmo. Comia as ameixas, sem me conter, (só mais uma, só mais uma, só mais uma...) mas havia sempre a sensação que nenhuma delas era a perfeita, a da memória. Quando por acaso há dias me choquei com uma caixa tal como dela me lembrava, de madeira branca e letras marcadas a fogo, inocentemente esperando na prateleira de uma loja (arcas de pirata em princípio encontram-se em cavernas, ou no fundo do mar) fiquei, fiquei , fiquei e depois comprei-a e vim o mais depressa possível para casa. Muito melhor que qualquer “madeleine”, não? Senhor Proust?
Publicada por
Teresa Cota Dias, Manuel Murteira Martins e José Vilela
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segunda-feira, fevereiro 19, 2007
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