Recebemos mais um mail da Filó. Desta vez duplo, ou melhor triplo. Decidimos não publicar: 1) as queixas da Xana e 2) a receita de "Lagosta Fingida". Publicamos, contudo, o que era um bilhete para nosso uso pessoal. Tomamos esta liberdade por estarmos convencidos que poderá reflectir a sensibilidade de muitos dos nossos leitores.
Olá Meninos
Tenho estado a pensar na conversa que tive com a Teresa quando a encontrei na Armani da Avenida da Liberdade. Acho que foi na segunda. Ficámos as duas em adoração com o mesmo casaco. Chiquérrimo, todo cinzento prateado. Disse-me que estava óptima, vocês têm todos essa mania de estarem sempre óptimos, mas achei-a com um ar muito cansado. Coitadinha. Todo o trabalho que tem no escritório, sempre agarrada ao computador, e depois vai para casa e continua á volta do computador e só para vos fazer a vontade. Têm de confessar que é demais. Disse-me, mas para mim isso não é surpresa nenhuma, que tem havido muito mais gente a ver essa coisa que vocês agora fazem desde que lá puseram a minha segunda mail. Grande admiração. Finalmente alguém conhecido a dizer coisas normais. Moi! Esta vossa amiga!
Por isso decidi mandar alguns pequenos conselhos que acho que podem ser muitíssimo úteis. Oh se podem. Primeiro: se querem tornar-se conhecidos (e só pode ser para isso que estão com essa trabalheira toda) entraram pelo caminho errado. Essa coisa de computador não tem jeito nenhum. Toda a gente sabe que é mais uma dessas modas americanas que parecem muito boas mas que nunca duram. Reconheço que apesar de ser uma coisa complicada, funciona. Sim, de certo modo até funciona. Como todas essas coisas americanas. Mas é complicado demais para a maioria e por isso nunca vai rivalizar com os jornais nem as revistas. Esses é que são importantes e é aí que deviam ver se conseguiam escrever. Bem sei que é difícil entrar para esse meio. Mas é isso que deviam ver se conseguem em vez de passarem horas sem fio agarrados a essas máquinas horrorosas. Estão iguais à minha Xana. Tão amorosa mas tão tolinha. Protesta muito mas lá vou conseguindo que me escreva estas mails. Parece que chegam onde a gente quer, até vocês têm recebido as minhas. De todo o modo os telegramas eram uma coisa muito melhor.
Ainda por cima esses computadores só têm servido para tirar o emprego a muita gente. Mais um efeito terrível dessa globalização de que tanto falam. A propósito já sabem que o Tio António foi despedido do banco? Logo ele, já com aquela idade e que não tem jeito para nada. Mas é um senhor, com S grande. Como não há muitos. Coitadinho. O que vai ser da família toda? Porque vivia tudo à custa dele. Já sabiam, não sabiam?
Para mim, e ninguém me tira isso da ideia apesar de dizerem que foram dois maluquinhos numa garage mas isso só pode ser mentira, os computadores foram mais uma invenção desses génios alemães que os americanos raptaram e levaram para a América quando venceram a guerra. Gente extraordinária que inventou a penicilina, a bomba atómica e é óbvio que também essas maquininhas infernais.
Segundo conselho: Escrevem sobre assuntos e pessoas que interessem. Passam a vida a falar de Sesimbra, até de Almada, de coisas estrangeiras, de livros que não me parecem merecer a menor atenção. Nem percebo como ainda há gente que se deixa apanhar para essa do vosso inquérito. Já devem estar bem arrependidas. Agora até têm uma coisa que a Xana consegue pôs a dar um vídeo – em inglês. Que parvoíce. Prometam lá que não voltam a escrever sobre essa horrenda margem Sul. Porque não há pachorra. Não há. Podiam falar do Algarve. Ou mesmo de Campo d’Ourique. Ou da Quinta da Marinha. Sei lá. Este País está cheio de lugares lindos e de gente encantadora. E vocês com essas.
Agora vou ditar outra, para vocês publicarem. Porque isto é só mesmo entre nós. Mesmo o que isto é: Conselhos de uma Amiga mais experiente e sensata.
Beijinhos.
Agora vai a outra: uma receita fantástica.
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007
Escrevem-nos: a Filó!
Publicada por
Teresa Cota Dias, Manuel Murteira Martins e José Vilela
à(s)
quarta-feira, fevereiro 21, 2007
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