Uma nova crónica de António Vasco Salgado. Já tinhamos fechado a loja quando chegou mas publicamos já porque é mais do que interessante:
Viagem a São Francisco, com apresentação de um produto.
Que São Francisco é uma das cidades mais bonitas do mundo é uma redundância tal quanto bonita é realmente a cidade. A sua relação com a água, só tem comparação com Hong Kong, Rio de Janeiro e poderia ter com Lisboa se nós tomássemos mais cuidado com a dádiva que a naturaza nos deu. São Francisco é a cidade do Filmore East, essa instituição gerida pelo Reverendo Bill Graham, que para quem tenha á volta dos cinquenta anos, fácilmente relacionará com o mais interessante que houve no movimento da música rock americana dos anos 60 e 70. Tem também um interessante MOMA onde se poderá ver um verdadeiramente excepcional Mark Rothko.
São Francisco é também a cidade que de forma mais consistente e sustentável lançou nos Estados Unidos algo de semelhante ao que já há anos existia no Continente Europeu. Foi em São Francisco que os proprietáriso de restaurantes iniciaram uma relação próxima com produtores agrícolas, por forma a melhorar as qualidades gastronómicas dos produtos que ofereçem nos respectivos restaurantes.
Éramos 4 e coube-me a mim organizar a vertente gastronómica de uma viagem de trabalho que 3 neurologistas decidiram fazer para assistir a uma das mais importantes reuniões científicas da nossa área de especialização.
O primeiro jantar foi no Alice Walters em Berkeley. Alice Walters é uma das responsáveis por esta ligação estreita entre produtores de excelência e os restaurantes. O restaurante fica relativamente longe de São Francisco e ficou abaixo da respectiva fama. Tudo relativamente bem cozinhado mas faltou-lhe a alma que o destaca dos restantes.
O segundo eleito foi o Zuni Café este em São Francisco, propriedade de Judy Rogers. A proprietária esteve algum tempo na Europa antes de se iniciar na sua aventura californiana, tendo passado, de acordo com o respectivo curriculo, nos Troisgros em Rouanne. Aqui está um restaurante sem grandes pretensões onde se janta condignamente, num ambiente divertido e despretencioso.
Finalmente a terceira noite estava reservada para a coqueluche das escolhas, o Michael Mina do Westin Hotel mesmo no centro da Cidade. Michael Mina é um chefe talentoso, sócio do tenista André Agassi, que na simplicidade cria um conceito verdadeiramente interessante e inovador. Imagine-se a escolher um produto e no mesmo prato criar 3 variações sobre o mesmo tema. Simples, eficaz e conseguido.
Tive a sorte de nesta viagem ser acompanhado pela minha grande amiga Teresa, colega de profissão, grande admiradora dos meus feitos culinários, o que rebenta positivamente com a minha auto-estima, e esforçada produtora de legumes de eleição numa horta que possui em Vilar Formoso. Foi com a Teresa que vasculhei todas as prateleira do Sur la Table e do Willam-Sonoma, duas enormes lojas com tudo o que possa estar relacionado com a gastronomia, desde instrumentos a produtos comestíveis. Foi numa destas que encontrei um sal verdadeiramente espantospo proveniente de Chipre. É uma flor de sal, de cristal quase perfeitament poliédrico verdadeiramenete estaladiço na boca. Tão bom que outro meu amigo ao despedir-se de um jantar que correu, acho eu, bastante bem em minha casa me pediu um pouco envolto num vulgar guardanapo de papel. Teresa Cota, corrige-me as irritantes gralhas, porque o dia já vai longo para quem começou a assistir a doentes a partir das 8 da noite. Beijos, o gastrónomo errante.
terça-feira, 13 de março de 2007
Escrevem-nos: António Vasco Salgado
Publicada por
Teresa Cota Dias, Manuel Murteira Martins e José Vilela
à(s)
terça-feira, março 13, 2007
Etiquetas:
António Vasco Salgado,
Escrevem-nos